domingo, 12 de junho de 2011

Plantação em margem de rio é rejeitada por 95%


Pesquisa sobre reforma do Código Florestal mostra também que 79% aprovam veto da presidente Dilma à proposta aprovada na Câmara

11 de junho de 2011 | 0h 00
Afra Balazina e Andrea Vialli - O Estado de S.Paulo
Pesquisa sobre a reforma do Código Florestal feita pelo Datafolha com 1.286 pessoas aponta que 95% dos entrevistados não aceitam manter plantações e a pecuária existentes hoje em Áreas de Preservação Permanente (APPs), como encostas íngremes, topos de morro e margens de rios.
Paulo Liebert/AE-31/5/2011
Paulo Liebert/AE-31/5/2011
Floresta. Desmate observado em assentamento no município de Nova Ipixuna, no Pará
O estudo para medir o que a população pensa sobre o projeto do novo Código Florestal - aprovado na Câmara em maio -, foi encomendado por seis ONGs ambientalistas: Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Imaflora, Imazon, Instituto Socioambiental, Fundação SOS Mata Atlântica e WWF-Brasil.
Segundo a pesquisa, 77% das pessoas avaliam que o Senado deveria parar para ouvir os cientistas antes de votar a questão. E 20% consideram que o Código deveria ser votado imediatamente para resolver o problema das multas. Hoje, produtores que desmataram tiveram a cobrança das multas adiada até que o projeto seja votado.
No levantamento, 79% dos entrevistados apoiam o eventual veto da presidente Dilma Rousseff, caso o Senado aprove a mesma proposta aceita pela Câmara. A presidente já afirmou ser contra a anistia para quem desmatou - o projeto prevê o perdão para quem cortou a mata até julho de 2008.
Um total de 45% dizem que devem ser perdoados apenas aqueles que concordarem em repor a vegetação desmatada. E 48% avaliam que quem desmatou deve ser punido de qualquer forma para dar exemplo para as gerações futuras. Apenas 5% dos ouvidos consideram que todos devem ser perdoados, sem necessidade de repor a vegetação, pois o fizeram para produzir.
Na opinião da maioria das pessoas ouvidas pela pesquisa (85%), o País deve priorizar a proteção das florestas.
"Insignificante". Para Assuero Doca Veronez, da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), essa pesquisa "encomendada por ONGs significa pouco" e tem baixa influência para a decisão do Senado. Segundo ele, a pesquisa deveria ter incluído nas perguntas se as pessoas estavam dispostas a pagar mais pelos alimentos no caso de o produtor ser obrigado a restaurar as áreas ocupadas.
Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, afirma que a pesquisa indica que os brasileiros estão atentos à questão. "Os resultados são expressivos e mostram uma grande contradição entre o País real e o País que legisla na Câmara dos Deputados", diz.
Embora apenas 7% da amostra seja composta por residentes da área rural, ele diz que isso não influenciou o resultado da pesquisa. "Em termos de conteúdo, não há grandes diferenças entre a opinião das pessoas que vivem no meio rural e no meio urbano", diz. Como exemplo, 66% dos entrevistados defendem que sejam mantidas apenas as atividades agropecuárias que segurem o solo e não representem riscos de acidentes. No meio rural, a taxa sobe para 68%.
Florestas x produção
85% das pessoas ouvidas pela pesquisa Datafolha consideram que se deve priorizar a proteção de florestas 10% afirmam que se deve priorizar a produção e 5% dizem não saber
PARA ENTENDER
Pesquisa ouviu 1.286 pessoas
A pesquisa Datafolha sobre o Código Florestal foi realizada com 1.286 pessoas, entre os dias 3 e 7 de junho. A pesquisa teve abrangência nacional, incluindo áreas urbanas e rurais, e o universo pesquisado foi de pessoas com 16 anos ou mais, com telefone fixo para posterior checagem. A maioria (93%) reside em áreas urbanas, 59% na Região Sudeste, 33% estão na faixa etária entre 16 e 29 anos, 44% concluíram o ensino médio e 25% têm rendimentos de até dois salários mínimos mensais.
A margem de erro máxima para o total da amostra é de 3 pontos porcentuais.