terça-feira, 7 de agosto de 2012

Brasil só pensa em curto prazo, diz empresário grego George Koukis

7/08/2012 - 04h00
TONI SCIARRETTA
da FOLHA DE SÃO PAULO

Os empresários e políticos brasileiros pensam só em curto prazo e fazem muito pouco para deixar um país melhor para as próximas gerações. 

A afirmação é do empresário grego George Koukis, dono da Temenos, multinacional suíça de software bancário, que se tornou um porta-voz do que chama de "liderança ética" global. Para Koukis, essa visão curto-prazista explica por que o país tem dificuldade em desenvolver sua infraestrutura e em promover um ensino de qualidade, investimentos de longuíssima maturação.
"É um erro que ameaça a perpetuidade das empresas e o futuro do país como a sexta economia do mundo."

Koukis afirma que vê os políticos pensarem só na próxima eleição e os empresários, nos resultados trimestrais e no bônus. No máximo, pensam em oportunidades pontuais com Copa e Olimpíada. "Temos aqui uma das maiores pobrezas rurais do mundo. Mas o Brasil é um país rico. Onde está todo esse dinheiro? É muita corrupção, ganância, ineficiência, impostos e desmandos. Há muitos milionários, mas o que eles fazem pelo país?" 

Desde que saiu da Temenos, empresa com 4.500 funcionários em 61 países, passou a investir seu tempo e fortuna para formar jovens capazes de "mudar o mundo". Em 2011, patrocinou a imersão em "ética e integridade" de 30 jovens líderes, sendo sete brasileiros, em um treinamento de três meses em Como, norte da Itália. Em 2013, o programa será em São Paulo, de janeiro a fevereiro. Ele faz palestra hoje na PUC-SP e amanhã na conferência mundial de empresas juniores, em Parati (RJ).
Emigrado para a Austrália e hoje vivendo na Suíça, Koukis afirma que é possível "ganhar dinheiro sem explorar trabalhadores, clientes e fornecedores". A Temenos oferece "garantia eterna" para produtos e serviços, enquanto concorrentes como a Microsoft dão só 90 dias.

VIDA CURTA
 
Aos empreendedores, Koukis vai falar por que a maioria das empresas quebra no primeiro ano de vida. "Um plano de negócio pode parecer infalível no papel, mas não sobrevive se não tiver por trás o comprometimento e a paixão de uma pessoa para fazer a coisa acontecer. Precisa ter um líder que faça isso não por dinheiro, mas porque é sua vida que está lá. É com esse negócio que ela ajuda o mundo a ser um lugar melhor."

Koukis diz que encontrou poucos líderes éticos no mundo dos negócios e na política. "Nem ONGs, institutos de caridade, missões religiosas têm essas pessoas. Vários se tornaram mendigos profissionais, implorando ajuda para seus projetos, mas na verdade só estão pensando em sua própria sobrevivência."

Cita [boas] iniciativas de microcrédito e o trabalho da indiana Vandana Shiva, que iniciou uma disputa com multinacionais como Cargill e Monsanto contra o patenteamento de sementes sob o argumento de que são patrimônio da humanidade.

Como grego, Koukis se sente envergonhado com a crise em seu país e com o futuro da Grécia na União Europeia. "Cada país quer ter sua independência e os políticos prometem benefícios sociais para todos, mas alguém tem que pagar a conta. Que independência é essa em que os governos e os bancos precisam de socorro?", disse. Será uma catástrofe se a Grécia sair do euro. O mercado financeiro vai se fechar e ela não terá mais apoio de ninguém."


Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
LUCRO SEM EXPLORAÇÃO Os mandamentos do empresário ético, segundo George Koukis
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