segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O condomínio gigante


Lauro Eduardo Bacca (artigo para o JSC de 05/11/2014)
Dedicado a Álvaro Correia
O gigantesco condomínio, bem funcional dentro de sua complexidade, desenhado, planejado e acabado para funcionar perfeitamente, com muita área verde, piscinas e playgrounds, tudo na mais perfeita harmonia, depois de tempos com alguns residentes mais antigos, finalmente começou a receber novos ocupantes. 
Muitos dos inquilinos, assim que tomaram posse, iniciaram um inacreditável processo de depredação. Cortinas foram rasgadas, paredes pichadas, janelas partidas, carne assada com fumaça no meio da sala, refeições feitas nos quartos, sobre camas lambuzadas, chuveiros arrancados e vasos sanitários quebrados, sujeira por todos os lados. Era na sacada que muitos iam dormir depois de destruir o ar condicionado, onde a chuva molhava e tornava imprestáveis os colchões ali esquecidos.
A parcela dos ocupantes tidos como mais “civilizados”, entre estarrecidos e sentindo-se impotentes, tentava tocar a vida, cobrando uma atitude da administração, que dizia nada poder fazer, em meio àquele caos. Até o dia em que destruíram as bombas que mandavam água para o alto e todos ficaram sem o precioso líquido. Esse condomínio bem que poderia se chamar Brasil.
Estou pegando pesado demais? Sim, caro e preclaro leitor, mas foi essa a sensação que tive depois de ler uma matéria com o cientista brasileiro Antonio Donato Nobre, primeiro na Folha de São Paulo e depois na íntegra, em "Estamos indo direto para o matadouro" que aqui compartilho, recomendando a leitura [materias referentes ao accessivel relatorio do mesmo autor: O Futuro Climático da Amazônia].
Ocupamos um paraíso. De cara arrebentamos com a cortina da Floresta Atlântica arrancando 92% dela e danificando a maior parte dos 8% que restaram; pichamos grande parte de nossas paisagens mal manejadas e expostas à degradação. Deitamos fogo em tudo, dizimamos a fauna e os recursos naturais. O lixo, a poluição das queimadas, esgotos e agrotóxicos ainda imperam nas nossas salas de estar que são as cidades e os campos. Nossos dejetos ainda cheiram fétidos no que deveriam ser veios de água límpida, os rios e córregos. Para completar, estamos destruindo a Floresta Amazônica, a bomba d’água que garante que São Paulo e tantos outros lugares não vire um deserto, num momento em que, como diz o cientista, o desmatamento não deveria apenas estar totalmente cessado, mas revertido até com um esforço de guerra de reflorestamentos e recuperações de matas nativas.
O assunto é chato, eu sei, mas a realidade está aí, para quem quiser conferir, se conscientizar e cobrar da síndica, primeiro passo para reverter a degradação do nosso condomínio Brasil.